segunda-feira, 15 de março de 2010

José

Por Gabriela Montesano

José é alguém comum, é mesmo gente como a gente.

Quando conheci José, ele tinha amigos, família, namorada, um salário digno, uma casa sempre cheia de admiradores. Mas José não conseguia se alegrar com suas próprias conquistas. Era sempre assim, um problema atrás do outro, um defeito aqui, outro ali. Ele não conseguia ver além do que estava a sua frente, como se sempre existisse uma barreira que o impedia de enxergar através.
Ninguém entendia o que fazia dele tão infeliz, o que existia de tão mau naqueles pensamentos, naqueles sonhos. Alguns até se irritavam com a sua então considerada ingratidão. Outros tinham dó, como se ele realmente fosse um coitado no meio de toda sua confusão. O problema é que José se preocupava com o que todo mundo dizia, como se fosse da sua obrigação agradar ou desagradar alguém.
Por mais que falassem mil vezes, ele não se sentia parte de uma família, digno de um amor ou um salário e muito menos conseguia ver sua casa cheia. Era como se não existisse ninguém ali. Nada parecia mudar na vida de José e ele se negava a fazer mudanças que acreditava serem necessárias.
Quantas vezes tentaram dizer, tentaram mostrar, tentaram ensinar José a viver. Quantas vezes quiseram sorrir, quiseram chorar, quiseram compartilhar a vida com ele. Mas ele estava preocupado demais se preocupando com o amanhã, com o futuro que talvez nem viesse a existir. Precisava sempre contar com alguém que ouvisse suas infelicidades ou sua suposta alegria. Queria sempre um para dizer que entendia o que se passava, pra colocar a mão na cabeça, pra compartilhar o mesmo ar pesado.
Ninguém entendia o que acontecia com José, por que ele era assim. Ninguém conseguia entender.
Então José deixou os amigos, acreditando que eles o tinham abandonado. José terminou com a namorada, acreditando que ela o tinha deixado. Demitiu-se do emprego, acreditando que o queriam fora dali. Sua casa ficou vazia, sua cabeça ficou cheia. E ele continuava acreditando numa possível conspiração do universo. Sempre se explicava de forma tola. Sempre acreditava que tudo se movia contra ele.
Eu realmente acredito que José acreditou nas pessoas e se feriu, criou expectativas e se desapontou. Mas não posso crer que todos devam se lembrar de suas dores antes de lhe dirigir a palavra ou de agir conforme suas vontades. Eu creio que cada um teve sua dor também - maior ou menor do que a de José – porém, o maior erro e a incompreensão que caminha com ele é por não acreditar nessa possibilidade.

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