terça-feira, 16 de março de 2010

Ela me deu um abraço

Por Caroline Albanesi

Dona Guiomar não é alguém comum, é especial, gente como a gente.


Entra com aplausos, caminha pelo extenso corredor e sobe ao palco, iniciando a noite com uma breve oração. A palestra dura apenas 30 minutos, e mesmo assim reúne 5 mil pessoas que saem de suas casas para ouvir a jovem senhora de 81 anos, conhecida como Dona Guiomar.
Perseverança. É neste Centro Espírita Kardecista que Guiomar atende indivíduos de diferentes religiões que buscam alguma ajuda. Só vendo para crer o que aqueles brilhantes olhos negros são capazes de decifrar e o que suas palavras exercem sobre os que passam em sua “salinha”. Tem fila de espera. Uns aguardam meses por 3 minutos ao seu lado. Relacionamento, finanças, doenças,...Não precisa falar, ali quem fala é ela. Contraria laudo médico, cirurgias pré-agendadas, discursa sobre os problemas nas empresas, depressão, e até amor. O resultado da conversa é evidenciado pela crescente freqüência de novos admiradores.
Acorda, ora, estuda, trabalha. Nunca pensou pequeno. São 4 filhos, 14 netos, 10 creches e 2 mil crianças atendidas, a quem visita e acompanha pessoalmente. Discutir com Guiomar é relembrar os tempos de enciclopédia, em que todas as informações estavam num só lugar. Ela sabe de tudo um pouco. Justifica argumentos usando a Ciência, com questionamentos embasados.
No palco com teto de céu, seus gestos são quase teatrais. As perguntas chegam por meio de pequenos papéis e as respostas se iniciam com a frase: “Ó gente minha, ó minha gente”. E elas se sentem assim. Há mais de 40 anos enxerga companheiros sentados no mesmo lugar. Seus quase 6 mil trabalhadores voluntários dispersam-se pelos prédios e salas da rua Bruna, na zona leste de São Paulo, em atividades de auxílio coordenadas pela presidente.
Vestida de branco, salto alto de tom neutro, cabelo arrumado, postura ereta e confiante, é assim que se apresenta. Cada dia um novo tema, sustentado com exemplos reais, estudos científicos, espiritismo, evangelho, e por vezes, sutis brincadeiras que encantam os ouvintes. O caminhar é leve, o português impecável, principalmente para quem aprendeu a ler sozinha num sitio onde morava com os pais e cinco irmãos no interior de São Paulo, e os ensinamentos, surgem do exemplo vivo de amor e dedicação ao próximo que representa.
Amiga fiel de Chico Xavier, aprendeu que nem sempre fazer o Bem é fácil. “Viver não é um simples espaço entre o nascer e o morrer, é dinamizar a vida com atos de fraternidade”. Assim decifra suas condutas, e espera daqueles à sua volta. Incentiva o trabalho solidário, desvinculado de crenças e da política, do que se mantém distante. No Perseverança vai quem quer. Pagar não é preciso, muito menos fazer propaganda.
Já são 21h25. Hora de apagar as luzes. Ela já entendeu, é tempo de despedir-se com uma rápida mentalização sobre Deus, vida e o tema abordado. As pessoas se levantam, aplaudem e buscam aproximar-se, quase que impedidas pelo grupo de músicos e pela equipe de organização que a escoltam até a porta de saída, onde abraçará aqueles que conseguiram uma senha para a noite. De certo, é mais do que um contato físico. Pode ser um encaminhamento para um dos tratamentos da casa, uma palavra esclarecedora, ou para simplesmente receber a energia dela como tantos falam.
Ela olha, sorri, aconchega, e os receptores saem sussurrando como se tivessem ganhado um troféu: “ela me deu um abraço”.

5 comentários:

  1. Cara Caroline, tive a oportunidade de conhecer sua avó há alguns anos atrás com seu projeto perseverança, porém nunca mais tive contato com ela, nem sequer com seu nobre trabalho, na última semana, ao comparecer em um evento da FLC na Via Funchal, tive a grata surpresa de me deparar com sua querida avó. Desde então tenho procurado na internet mais informações sobre o trabalho desenvolvido por ela, pois tenho a intenção de frequentar o grupo perseverança. Acontece que não estou conseguindo ter acesso ao site do grupo, sei que aqui não é local mais apropriado para solicitar este tipo de informação,mais agradeceria se informasse o local e datas do grupo perseverança. Desde já agradeço.
    Att
    Francisco Caliani Campos Granado

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  2. Olá Francisco! Não sei lhe dizer sobre o motivo do não funcionamento do site, mas se precisar de informações basta comparecer ao local que a equipe da organização deve lhe assistenciar. Espero que dê certo, senão, envie um e-mail para carolinealbanesi@hotmail.com.

    Obrigada e boa sorte!

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  3. Caroline, freqüentei a Casa Perseverança desde 1985. Mas há muito não visito. Tive uma experiência ruim com uma atendente da triagem, em um momento de desespero com meu filho, e que me fez me afastar de lá. Mas isto é outra história. Quero relatar minha experiência com o abraço desta mulher que durante anos me fez chorar quando adentrava no salão. Nunca consegui uma senha, mas ficava do lado de fora do corredor, observando-a naquele momento. Uma vez, eu estava muito triste, me sentindo muito sozinha...e, em minha mente eu disse: "só um abracinho, Dna. Guiomar...". Fui pra casa, e em meu sono, vi uma mulher de branco, de costas...toquei em seu ombro...ela se virou, estendeu os braços com aquele sorriso limpo e disse: pronto filha, pega seu abraço! Foi há um pouco mais de 14 anos atrás...tenho muita saudade...

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  4. Bela história...belo exemplo de vida, na perseverança da fé! Inspirador👏👏👏☝☝☝

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  5. Bela história...belo exemplo de vida, na perseverança da fé! Inspirador👏👏👏☝☝☝

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