terça-feira, 25 de maio de 2010

Soninha: a filha do mundo

Por Caroline Albanesi


Sônia Camargo*. Assim não quer chamar aquela que durante toda a sua existência atuou nos bastidores dos mundos alheios. Ela tem 32 anos, mas parece uma menina pelo jeito, aparência e, posso dizer, ingenuidade. Com estatura baixa, cabelos claros, pintados de ruivo "caju", sardas e pouco acima do peso, é assim que se apresenta, como a famosa e querida "Soninha".
Quem a vê não enxerga que por trás da aparência de menina, existe uma mulher que já guerreou contra os golpes da vida. Filha de uma chamada " profissional do sexo", que a concebeu aos 16 anos e que carregava não apenas um bebê no ventre, mas um passado de vícios e angústias, Soninha foi entregue pela sua avó materna à Tia Silvia*, que mesmo com a rigidez de senhora religiosa e tradicional, soube a amar como os vínculos sanguíneos determinam.
Apanhou, chorou, mas revolta com ela não teve vez. A disciplina impedia.
Conheceu Simone*, amiga dos parentes de São Paulo, quem a recebeu em sua casa e a fez sair de Ribeirão Preto, quando já formada no colégio. Com ela aprendeu a lição mais valiosa: a de fazer o bem.
Simone a levou ao sertão do nordeste para um trabalho social, onde pôde enxergar um novo mundo, com conflitos até então inimagináveis à menina. Gostou tanto do trabalho, que lá mesmo, no semiárido, ficou, atuando na ONG como uma verdadeira Amiga do Bem. Brinca com as crianças, cuida dos idosos e jovens, dos carentes de pão e de afeto, o que sempre teve de monte.
Hoje quem diria...família aqui e acolá. A menina a princípio "deixada" pela mãe é a filha do mundo, daqueles que ela conquistou pelo amor, laço que não se forma pelo corpo, mas pela alma.
Relembra dos tempos em que achava que nunca seria feliz: "me sentia estranha em todo lugar, parecia que pra mim não havia chão". Engano dela, aliás, "vai trabalhar, menina, que agora você é das terras do sertão".


* (os nomes foram substituídos para preservar as personagens)

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