quarta-feira, 7 de abril de 2010

A sombra da sua sombra



Por Sabrina Fantoni


Acordava bem cedinho para aproveitar o café fresquinho e o pão quentinho. Aquela manteiga gorda e o leite espesso, direto da vaca; eu era capaz de sentir o gosto e a textura só de imaginar. A poeira e o cheiro de cana queimada contribuíam para a sensação quente e seca de Ribeirão Preto, cidade onde alguns dos Fantonis da minha família se firmaram e continuaram suas vidas. Eu me preparava para voltar pra São Paulo das férias de julho que havia passado lá, quando, ainda na mesa do café, meu primo tira de sua pasta um presente para mim; era um cd gravado com as canções de Nina Simone, uma grande cantora de Jazz dos anos 50, norteamericana. Como sempre soube do bom gosto musical de meu primo, Tim, sabia que era algo no mínimo respeitável.
Dona de uma voz maravilhosamente negra, com aquela peculiaridade e entonação grave, Eunice Kathleen Waymon Adotou o nome Nina, que veio de pequena (little one)e Simone por causa de sua atriz preferida, Simone Signoret, grande nome do cinema francês.
Nascida em 1933, na Carolina do Norte, ficou mundialmente conhecida por sua interpretação de "My baby just cares for me", e uma das mais lindas versões de "Ne Me Quitte Pas" de Jacques Brel também cantada por Nina.
Mulher de fibra, recusou-se a viver em seu país de origem pois não aceitava continuar morando num lugar onde sua "raça" não era respeitada; cantou no enterro do pacifista Martin Luther King e sempre foi muito envolvida na questão do preconceito racial. “Mississippi Goddamn” tornou-se um hino ativista da causa negra, e fala sobre o assassinato de quatro crianças negras numa igreja de Birmingham em 1963.
Foi pela batalha dos direitos civis que, segundo a própria, seus amigos se foram, dentre eles Stokely Carmichael, Malcolm X e Luther king. Apesar da sua força e determinaçao, na sua vida íntima, ela que era casada com um policial nova iorquino era espancada pelo próprio marido.
Nina compunha a lista das mulheres negras de belíssimas vozes do Jazz. Assim como ela, podemos citar Sarah Vaughan, Billie Holiday e Ella Fitzgerald. Essas que mudaram o cenário musical da época, revelaram o poderio da voz feminina e das mulheres no comando. Depois delas viriam muitas outras que se tornariam referência mundial, como Aretha Franklin e Etta james.
Em 21 de abril de 2003, aos 70 anos, Nina morre dormindo, de causas naturais, em sua casa de Carry-le-Rouet, no sul da frança. Assim como todo mundo, a cantora bem sucedida e reconhecida mundialmente, também tinha suas inseguranças, medos e fraquezas. Nina também era gente como a gente, mas era A Nina.

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